Pessoas que atuam por cidades mais caminháveis no mundo se juntam anualmente para trocar experiências

Instituto Caminhabilidade
7 min readDec 2, 2019

Confira como foi o Walk21 este ano e a nossa participação

Rua pedestrianizada no centro de Rotterdam

O maior evento de caminhabilidade do mundo, Walk 21, aconteceu este ano em Rotterdam na Holanda em sua vigésima edição (entre os dia 7 e 10 de outubro). Com o tema de “Colocando os pedestres em primeiro lugar: inteligente, saudável e para todos!” (Putting Pedestrians First: Smart, Healthy and for Everyone!); tinha três principais linhas temáticas sobre como colocar o caminhar em primeiro plano geram cidades: para todas as pessoas, saudáveis e inteligentes na escala humana. O evento teve uma programação intensa e com várias apresentações interessantes acontecendo ao mesmo tempo.

Encontros e reencontros

Como o caminhar é um grande provocador de encontros o evento não poderia ser diferente. É a terceira vez que eu, Leticia, participo do Walk21 representando e apresentando o SampaPé!, com sete anos de liderança na organização atuando no tema, o evento é também um momento de reencontro de pessoas mergulhadas no assunto que muitas tive a oportunidade de ir conhecendo em outras ocasiões — e que muitas mantemos contato para conseguir nos fortalecer e aprender da prática uma das outras.

Leticia apresentando a nossa conexão nacional para realizar a Semana do Caminhar 2019

No âmbito internacional, fazemos parte da Federação Internacional de Pedestres (IFP), ao lado de organizações do mundo todo. Na ocasião das conferências do Walk21 acontecem as assembléias gerais da federação — sendo mais uma grande oportunidade de encontros e reconhecimento de projetos. Nesse sentido, nos chamou atenção como a organização belga Voetgangersbeweging (Movimento de Pedestres) tem atuado com a questão de segurança viária e estímulo a modos ativos no entorno escolar, o que vamos procurar nos conectar para criar as ruas abertas escolares no Brasil. Assim como pretendemos trabalhar projetos de gênero e caminhabilidade próximas a Portugal.

Assembléia da Federação Internacional de Pedestres

Além da assembléia, a IFP junto à American Walks e o Como Anda organizaram um workshop de encontro entre as organizações para estimular a troca — outro espaço para seguir conhecendo pessoas e nos apoiando mutuamente. Nesse exercício, sugeri que possamos fazer intercâmbio de pessoas entre organizações por um tempo para estreitar os laços e conhecer a realidade dos projetos dos outros, vamos ver se conseguimos avançar nisso e receber alguém por aqui e ir conhecer mais de perto a atuação de alguma das organizações presentes.

Outras pessoas que é sempre uma alegria reencontrar são os diretores do Walk21 Jim e Bronwen, que não medem esforços para engajar as cidades para se tornarem mais caminháveis e conectar pessoas. Outro grande reencontro foi com o Pedro Gouveia que esteve esse ano com a gente em um papo muito legal (leiam aqui) e falou em uma das plenárias do evento sobre o seu jeito de convencer e atuar por cidades mais caminháveis e seguras.

Caminhantes da América Latina na festa de encerramento

Além disso, estava também o Sérgio Avelleda, ex secretário de mobilidade e transportes e que agora atua no WRI. Do Brasil também estava o ITDP. Da América Latina reencontrei as meninas da “Reconquista Peatonal” do Chile, que conhecemos no Placemaking Latinoamérica em Valparaíso em 2017 (contamos tudo de como foi aqui), onde estavam lançando o projeto de diários caminhantes. Também estava presente a Ankita da NACTO, que havia encontrado no encontro anual em Toronto um mês antes e que participa de muitas ações junto com a Bloomberg em São Paulo e Fortaleza. Entre muitas outras pessoas que já caminhamos em diferentes lugares do mundo, como meu tutor do mestrado na UCL em Londres que foi um dos mediadores das minhas apresentações.

Leticia, junto com outros participantes do painel que apresentou e de camisa azul seu tutor de mestrado e mediador do painel

O que se está falando e fazendo por cidades mais caminháveis

A cada ano é possível conhecer novidades e ver que temas estão despontando. Vou destacar alguns que me pareceram mais inéditos e importantes de estar no evento.

Legibilidade

Leticia apresentando sobre o Passeia Jardim Nakamura

Fiquei imensamente feliz de ver algumas programações focadas em localizar as pessoas quando estão a pé nas cidades, pois é um assunto que estamos trabalhando com mais afinco desde 2017 com o mapa Bixiga a Pé, o Passeia Jardim Nakamura e o Emplacando a Cidade. Nesse tema destaco a oficina que chamava City Wayfinding (City Wayfinding — the discipline of showing people the way to go) que contou com pessoas da Steer, da T-kartor e da prefeitura de Rotterdam, onde falaram muito sobre a intenção dos mapas em o que evidencia, em entender o público alvo e as limitações. Além disso, foi nesse tema que apresentei o Passeia Jardim Nakamura, projeto realizado com COURB no Jardim Nakamura, bairro na Zona Sul de São Paulo para desenvolver um sistema de legibilidade cidadão, ou seja, feito junto com a comunidade (veja nossa publicação).

Ruas abertas escolares e desenho urbano para crianças

Outra alegria foi ver como é uma tendência criar ruas abertas escolares pois estamos mergulhando nesse tema para começar a realizar aqui no Brasil e lá encontrei várias cidades e organizações que estão promovendo nas ruas cidades, a princípio está sendo realizado mais em cidade européias e conectado à questões climáticas, de gerar refúgios climáticos nas escolas públicas.

Pedro Gouveia apresentando sobre o Anda Lisboa na plenária principal

Caminhabilidade na escala da cidade

Praça Caminháveis na Paulista com a Consolação realizado este ano com a WeWork

Outro destaque foram os projetos de planejamentos e propostas de promover e realizar cidades mais caminháveis na escada da cidade, nesse sentido o Pedro Gouveia apresentou o Anda Lisboa, Plano de Acessibilidade Pedonal da cidade de Lisboa. E também houve uma interessantíssima apresentação do plano de melhoria de caminhabilidade de Buenos Aires, que depois de criar as zonas de caminhar na cidade como o Microcentro com ruas compartilhadas à 10 km/h agora tem um plano em uma escala maior, conectando zonas e ampliando os acesso.

Placemaking e Caminhabilidade

Por fim esses temas entenderam que estão completamente relacionados. Apareceram muitos projetos de qualificação de praças, espaços públicos para permanência entendendo que isso é parte do universo do caminhar, que não é um tema só da área de “transportes” pois caminhar gera outras relações e interações com as cidades. Nesse sentido também começamos a atuar este ano na iniciativa que chamamos de Praças Caminháveis, fazendo processos de urbanismo tático participativo para qualificar praças e espaços públicos em locais de grande fluxo de pessoas e acesso à estações de transporte.

Walkshops e Visitas

Escultura do Picasso no meio do caminho para a festa de encerramento

Além disso, outra experiência que vale muito a pena oa ir a eventos em outras cidade e contextos é obviamente caminhar e viver as ruas. O evento proporcionou muitos walkshops, ou seja oficinas caminhantes, falando e fazendo alguns exercícios nas ruas. Pude participar de um em que a consultoria que está desenvolvendo o projeto para a cidade nos contou o processo e nos colocou para contar fluxo nas ruas e discutir a proposta que estão desenvolvendo para um entroncamento de ruas na zona central mais focado no caminhar e nas pessoas. Ainda todas as pessoas foram a pé pela cidade, cerca de 1 hora para o local da festa de encerramento.

E no último dia do evento houve visitas a algumas cidades holandesas juntos com as equipes de planejamento urbano das cidades e eu tive a oportunidade de conhecer Utrecht, uma cidade fofa no centro do país que tem a estação de trem mais movimentada da Holanda e o maior estacionamento de bicicletas do mundo, e um centro históricos todo pedestrianizado com muita presença e convivência com água como é típico no país. A visita foi muito inspiradora

Rua em Utrecht com preferência de bicicletas à automóveis

Depois de participar do evento voltei para o Brasil reenergizada para continuar criando e atuando por cidades mais caminháveis. Ano que vem o Walk21 será em Seul, na Coreia do Sul. Já animada para conhecer a realidade de lá e encontrar e reencontrar mais pessoas e projetos que continuem inspirando e sendo valorizados, para que nós e as próximas gerações possamos viver em cidades mais caminháveis.

Agradeço o apoio com a passagem do ICS (Instituto Clima e Sociedade), o que possibilitou a minha participação no evento.

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Instituto Caminhabilidade

ONG liderada por mulheres | Desenvolve cidades em que pessoas e caminhar sejam prioridade | Busca equidade de gênero e enfrenta a crise climática